Jacob Pinheiro Goldberg

Jacob Pinheiro Goldberg

Written by Israel Blajberg

VIDA E OBRA DE JACOB PINHEIRO GOLDBERG

Jacob Pinheiro Goldberg é um intelectual, acadêmico, psicólogo, advogado, assistente social e escritor brasileiro de origem judaica polonesa,com raízes na cidade de Ostrowiec.

Jacob nasceu em 1933 na cidade de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, Brasil.. Na poesia de Goldberg, as experiências pessoais dão lugar à curiosidade pela terra de seus ancestrais. Ostrowiec às vezes aparece como uma cidade mágica. Jacob publicou o livro The Magic of Exile / Magia wygnania, traduzido do polonês pelo Prof. Henryk Siewierski, Universidade de Brasília - UnB.

A solidão e o estranhamento do ser humano, existencial e geográfico é o tema desses poemas de Jacob Pinheiro, conhecido e reputado psicanalista. A edição bilingüe português-polonês é a primeira feita de autor brasileiro. Sua versão polonesa é valorizada pela seleção e tradução feita pelo Professor Doutor Henryk Siewiersk, da Universidade de Brasilia. O livro de poesisas foi publicado pela Editora Landy em 2003.

Em entrevista à TV 247, quando completou 87 anos, Jacob, que também ostenta o título de Tenente R/2 de Infantaria, recebeu diversas homenagens, entre as quais do Coronel Acosta, Comandante do Regimento Raposo Tavares, e da Banda de Música da tradicional e histórica unidade, sob a regência do Tenente Terra.

Nos idos da década de 50 o Tenente Jacob foi comandante da 1ª. Companhia de Fuzileiros do antigo 4º. RI, hoje 4º. Batalhão de Infantaria Leve Aeromóvel da Força de Ação Rápida do Exército Brasileiro, aquartelado em Osasco-SP. Após retornar à vida civil, ele se tornou um dos mais conhecidos profissionais na área de psicologia, sendo autor de mais de dois mil trabalhos entre livros, ensaios, crônicas, palestras publicadas no Brasil e no Exterior, além de ter artigos em jornais e revistas e ser fonte frequente de entrevistas em rádio, televisão e internet.

Nascido em Juiz de Fora-MG, onde cursou o NPOR, e depois o CPOR/SP, ele é brasileiro nato de 1ª. geração, sendo sua família originaria da cidade polonesa de Ostrowiec.

Jacob Pinheiro Goldberg é doutor em Psicologia pela Universidade Mackenzie, graduado em Psicologia pela Universidade Católica de Santos, em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Direito pela Universidade Federal Fluminense.

É autor de mais de dois mil trabalhos entre livros, ensaios, crônicas, palestras publicadas no Brasil e no Exterior, além de ter artigos em jornais e revistas e ser fonte frequente de entrevistas em rádio, televisão e internet.

Sua vida tem sido objeto de teses acadêmicas, como "Jacob Pinheiro Goldberg – A maravilhosa janela da tela poética sobre a liberdade do mundo" de Librandi, Marília (Autor), Taboada, Mari (Projeto gráfico), Segalovitz, Yael (Orelha), com temática de critica literaria, ensaio, poesia, literatura, escuta, onde Jacob ganha a mais completa análise literária de sua obra poética. Escrito pela professora de literatura brasileira da Universidade de Stanford e da Universidade de Princeton, Marília Librandi, o livro foi sua tese de doutorado em Teoria Literária na USP.

Yael Segalovitz, professora na Universidade Ben Gurion e tradutora de Clarice Lispector para o hebraico, apresenta o livro: “o público vai se surpreender com a força dessa literatura judaico-mineira-brasileira-multiversal.” “A sensibilidade dessa análise literária confirma que um dos grandes analistas do país é também um de seus maiores poetas”.

O livro chega em uma bela edição e com um titulo sugestivo, parte de um verso de Goldberg: A maravilhosa janela da tela poética sobre a liberdade do mundo.

Louvado por Carlos Drummond de Andrade, Jacob nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1933. Librandi mergulhou na história de seus pais imigrantes da Polônia, na vida do menino em Juiz de Fora, na relação entre psicanálise, literatura e testemunho. Em cinco capítulos, o livro apresenta e analisa 50 anos da produção literária de um dos maiores psicólogos brasileiros e inclui uma série de depoimentos emocionantes e inéditos.

 

 

Outra tese sobre Jacob foi apresentada a Universidade Federal de Juiz de Fora, Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários, por Aline de Moraes Pernambuco: "Uma América de muitos feitiços: Uma leitura d’O Feitiço da Amérika de Jacob Pinheiro Goldberg, Juiz de Fora, 2013"

Trata-se de Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários, área de concentração em Teorias da Literatura e Representações Culturais, da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Juiz de Fora como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Gilvan Procópio Ribeiro, Juiz de Fora, 2013.

Na abertura Aline estampou o seguinte agradecimento: "A Norma Goldberg, Suzana, Sidney, Flávio e Leonardo pela recepção familiar e afável que me proporcionaram em São Paulo. A Fanny, seu Luizinho e Jacob, por existirem. "

A dissertação analisa a obra O Feitiço da Amérika – de Jacob como poeta. A biografia pessoal e intelectual do autor é apresentada no início do trabalho, demonstrando como a sua formação híbrida contribui para a construção da poética jacobiana, marcada pela fronteira. O resgate dos arquétipos americanos são desnudados na obra, provocando a ruptura de gêneros e criando novas imagens e variantes linguísticas, abrindo novas possibilidades de aproximação e interação linguística e cultural. Recriando a linguagem, o poeta resgata e produz a diversidade, devolvendo às palavras uma virtualidade perdida.

Os poemas são descritos observando as manifestações em verso do imaginário dos povos americanos, que afirma o maravilhoso, o mágico e o sagrado, abordando as vertentes Poesia americana – Arquétipos -Hibridismo cultural – Americanidade -Poética jacobiana.

“A vida é uma passagem, um trânsito na eternidade” Jacob Goldberg. O poeta Jacob Pinheiro Goldberg sabe bem cruzar o fantástico e o real, porque para ele, fantasia é sempre realidade e o real é a expressão do fantástico. Ele mesmo define sua biografia pessoal e intelectual como “romance de formação”. O absurdo é esboçado em seus poemas como pinceladas do cotidiano, factuais, e também como viagens no eu interior ou social. Poesia introspectiva, algumas vezes surrealista, violenta, anarquista.

Dentre numerosas obras publicadas, em O Feitiço da Amérika – (1992). Jacob faz uma Poesia voltada para o coletivo, explorando a História do continente americano e das suas diferentes etnias, incluindo aquelas que já não existem mais, exterminadas pela invasão colonial. Diversas Representações literárias estão presentes n’O Feitiço da Amérika, como afirmação da identidade intercultural. Isso significa que, tanto o folclore popular quanta a cultura de massa são representados nos poemas. O mágico, o fantástico, o modo de pensar o mundo pelas culturas autóctones foi colocado em choque com a conquista da América, uma vez que a forma de comunicação e
concepção do mundo europeu foram impostos aos povos indo-americanos:“Colombo descobriu a América, mas não os americanos” (TODOROV, 2003, p.69).

 

Jacob disse certa vez que Juiz de Fora é a sua Terra do Nunca, onde ele pode caminhar
nas ruas e encontrar todos os personagens de sua infância, inclusive aqueles que já não
habitam mais a esfera terrestre ou que a habitam de uma forma bem particular, como a Mula
sem Cabeça: “Juiz de Fora é inventada por mim e eu inventado por ela”9. Embora desterrado,
Jacob dedicou poemas e obras à Juiz de Fora, onde nasceu em 1933. Uma dessas dedicatórias
é o livro de poemas Rua Halfeld, Ostroviec, cujo título já demonstra a relação ambígua do
poeta com o espaço e sua natureza, definida por seu nascimento: filho de poloneses judeus,
que vieram para o Brasil no início do século XX, esperançosos de uma vida livre, encontram
acolhimento, mas também o anti-semitismo cristão e provinciano, o integralismo e as políticas
anti-semitas do Governo Vargas. Ainda assim, é neste Brasil que Luiz Goldberg ergue sua
família e junto com Fanny Elwing Goldberg10 homenageia o mundo dando à luz o menino
Jacob. Judeu educado em colégio protestante, o Instituto Metodista Granbery, observa desde
criança as diferenças culturais que o rodeiam, tanto no cotidiano quanto nos jornais, livros e
cinemas, provocando uma intensa multiplicidade cultural na formação e no imaginário do
poeta. Fundará O Volante, em 1953, tornando-se membro da Associação Mineira de Imprensa
aos 13 anos. Também fundou e dirigiu o Jornal Vanguarda Israelita, em 1955.

Fanny também era poeta e escultora. Publicou dois livros de poesia: Minha Esperança (1983) e Meu Caminho sem Fim (1984). Sobre sua obra: ALVIM, Érica. ROCHA, Marilia Librandi. A poesia de Fanny Goldberg. Uma mulher, muitas vozes. São Paulo: Open Press.

Jacob vem construindo uma participação politicamente ativa na sociedade brasileira, com intervenções constantes nos processos políticos, econômicos e culturais do país, através de publicação de artigos e entrevistas na mídia12, para rádio, televisão, revistas, jornais e internet, além da publicação de livros, artigos acadêmicos, científicos e atuação profissional, tendo se formado como assistente social, advogado e psicólogo. Foi fundador e coordenador do curso de Psicologia e História da USP, conferencista convidado da University College London Medical -Universytet Jagiellonski e Universytet Warszawski (Polônia); Hebrew University of Jerusalém; USP -PUC/SP -PUCC -Universidade de Brasília -UNESP -Mackenzie, Vice-presidente para a América do Sul da
Middlesex University (Inglaterra); Aspirus Wausau Hospital, Wisconsin (E.U.A.),
considerado uma das eminências mundiais em saúde mental. Realizou trabalhos de imagética
para numerosas personalidades da cultura, do esporte, da política e da mídia brasileira, sendo
inclusive co-rresponsável pelo projeto Seninha, fundado por Ayrton Senna.

Sua participação na esfera política também é intensa e polêmica. Enquanto estudante,
participou por apenas 24 horas da União da Juventude Comunista, pois foi expulso ao
convocar uma reunião e protestar contra a invasão da Tchecoslováquia pela União Soviética.
Logo depois, foi preso pelo Dops por liderar uma manifestação estudantil, ao presidir a vice-
presidência do diretório acadêmico do Instituto Metodista Granbery. Em entrevista sobre sua
vida e obra13, Jacob revela alguns fatos biográficos.

Serviu o Exército Brasileiro aos 18 anos, em Juiz de Fora, e dessa experiência pôde
extrair sua tese Serviço Social no Exército Brasileiro, algum tempo depois, em São Paulo.
Integrou importantes momentos políticos do país, como a ascensão e a queda de Jânio
Quadros, com trocas de correspondências com o então presidente da República, entre outras
intervenções. Realizou o trabalho de imagética para o líder democrata-cristão Franco
Montoro, para sua candidatura à presidência, criando nessa época, o conceito “tucano”.

Em São Paulo, serviu no 4o. Regimento de Infantaria, sob o comando do coronel Euryale de Jesus
Zerbini, intelectual de esquerda preso durante o golpe. Posteriormente, a esposa de Zerbini,
Terezinha de Jesus Zerbini indicou Goldberg como candidato a senador pelos movimentos
negro e feminino do PDT, com o apoio de Leonel Brizola. Foi também pré-candidato a governador pelo PSB de São Paulo, tendo, nas duas ocasiões, se negado à atuação política
partidária.

Jacob tem participação constante em programas televisivos de massa, como o Pânico na TV, Jornal da Record, entre outros. A postura política de Goldberg repele a violência de qualquer estado totalitário, independente se capitalista ou socialista. “À maneira dos novos filósofos franceses, que são os representantes do pós-modernismo, Goldberg está convencido de que ‘a fixação ateísta de Marx’ vai dar no Gulag, como se o livro ‘O Capital’ fosse um manual de categorias carcerárias”. De fato, como afirma o jornalista, Jacob olha com desconfiança o líder e o mito do herói, tal qual deveria ter olhado outros intelectuais como Sartre, por exemplo, que por se recusarem a encarar a realidade e ferir suas utopias, acabaram por apoiar sistemas cruéis, como os campos de concentração que se espalharam pelo leste europeu com a Revolução Russa, optando, segundo Todorov, pelo totalitarismo e pela servidão (1989, p.100).

Embora não seja religioso, Jacob, atento à luta dos povos e talvez influenciado por sua
mãe, Fanny Goldberg, atuou no movimento sionista mundial, sendo deputy-member da
organização Mundial Sionista (Jerusalém – Israel) e co-presidente da Organização Mundial do
Brasil.

Sua atuação no campo jurídico também se destaca pela contestação e combatividade.
Sua tese sobre o Direito e a Ordem Jurídica foi lida e apreciada por Jorge Amado, Lucas
Garcez, entre outros, tendo recebido a Comenda Mérito Benjamim Collucci, título conferido
pela OAB – MG, em 2008. Foi convidado pelo professor Carlos Guilherme Mota (USP) para o movimento que buscou outorgar o titulo de Doutor Honoris Causa a Sobral Pinto, obtendo resultados frutíferos. Um mês depois, logo que a Folha noticiou a palestra ministrada por Goldberg, o título foi outorgado.

Quanto às obras literárias, foram em sua maioria publicadas em edições do autor e algumas são encontradas em sebos. Sua última publicação é O Direito no Divã – Ética da Emoção, organizado por Flávio Goldberg, pela editora Saraiva, em 2011. Sobre sua obra, encontramos algumas antologias, como a edição bilíngue A Mágica do Exílio. Magia Wignania do professor e tradutor Henryk Siewierski (Universidade de Brasília / Universidade Jagiellônica de Cracóvia, Polônia)

Siewierky afirma que a linhagem judaica de Goldberg “estende seus braços por vastos territórios de outras culturas e, como um grande rio, recebe inúmeros afluentes”. “Familiarizado com a sina
e a magia do exílio”, o estranho, o heimlich é a matéria de Goldberg, o distante sua fascinação, como a Polônia, por exemplo, um dos seus espaços míticos. Só é possível ver o outro se há uma deformação no ato de ver-se a si mesmo. Relativizar o olhar, seguindo a tradição de Martin Buber, onde o outro ocupa um espaço determinante na formação do eu.

Na poética de Goldberg, essa questão inicialmente pode ser concebida como a própria
experiência da diáspora judaica, a figura do judeu errante. Há uma transitoriedade
permanente, promovendo uma dialética dos espaços, reais e imaginários. Nesse sentido, não
há uma separação entre ambos. O autor supera a materialidade do mundo e se lança num
devaneio poético, que vai romper com a lógica espaço-temporal.

Juiz de fora é presença constante, assim como a Polônia, terra de seus pais, mas onde o
poeta nunca esteve e que, de acordo com um dos seus poemas, nunca estará. Ainda que
vivendo em São Paulo, ele transita por estas duas origens distintas: Juiz de Fora e Ostroviec.
Mas, não encerra aí: essa poesia viaja no Tempo e reconfigura os arquétipos, trazendo novos
significados para sua própria condição existencial.

A obra de Jacob Pinheiro Goldberg atravessa mais de meio século e reflete todos anos
da História, local e global. Sua poesia fala da solidão humana que se instaura como condição
existencial e, por um lado, também reflete as crises do seu tempo. O humanismo latente, tão
exacerbado que se encontra com a dor do ser vivente, se instala e se transforma num mundo
caótico, vítima da crueldade humana, que vai ter seu ponto mais alto no nazismo. O poeta
percorre os caminhos do anti-semitismo e arrebenta as fronteiras da dor individual para
incorporar-se no Outro. Não escreve apenas a dor do ser judeu num mundo anti-semita, mas a
dor de todo o ser que, de alguma forma, é vilipendiado pela sociedade. O negro, a mulher, o
pobre, o índio, o crioulo, o presidiário.

Sua produção literária não é fantástica e nem realista, mas uma soma entre estas duas
vertentes literárias. O deslocamento é outra condição da poética jacobiana. Embora nascido no Brasil, Goldberg permanece sempre como um estrangeiro, pois não absorve a religião judaica e nem
cristã, exilando-se dos grupos, do coletivo e lançando-se numa produção intelectual solitária e
livre de formulações e correntes. Judeu numa terra de cristãos, poeta numa terra pisada pelos
dissabores da realidade sócio-política. Este estranhamento será manipulado e transformado
em arte. A espada do poeta é a reflexão e a imaginação, registrada nas letras e transformada
numa poesia complexa, que reflete o caos existencial, pessoal e histórico.

O tradutor nos revela, ainda, acasos que remontam a Primeira Guerra Mundial e que
geraram o seu nascimento e, posteriormente outros que, por fim, o aproximaram de Jacob.
Destas raízes comuns e também de muitas diferenças, nasceu o livro bilíngue A Mágica do
Exílio – Magia wygnania. Em uma passagem deste artigo, no qual Henryk faz um poema
para contar sua estória, ele afirma que “Há histórias que não tem como contar a não ser em poema”. E prossegue salientando que Goldberg é uma expansão, para dentro e para fora, para si e para o outro, na sua frequente preocupação com as causas da polis. Segundo o crítico, há uma aproximação entre as poéticas jacobiana e polonesa, fazendo comparações não apenas de formas, mas também de temas com poetas polacos, “fiel aos princípios atemporais herdados, a uma voz interior, que
vem do que nos transcende”.

No artigo Poesia judaica em Juiz de Fora: um delírio mineiro-Ostrowiec, a obra de Goldberg é uma literatura de testemunho de judeus que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial e de um autor judeu exilado geográfica e existencialmente.